No domingo pela manhã, Cecília foi quem acordou primeiro, não porque
quisesse, mas porque recebera uma ligação. Enquanto estava conversando ao
telefone percebeu Laura se aproximar e desligou rapidamente.
- Quem era? – Laura perguntou meio se espreguiçando ainda.
- Era minha mãe.
- E está tudo bem? Você parece meio assustada.
- Não, é só um efeito retardado do que
aconteceu ontem. – Ela estava mentindo e se sentiu culpada porque sabia que
Laura se sentiria mal. E olha só, ela estava certa.
Laura se aproximou mais dela e a abraçou.
- Desculpe amiga, eu não sei o que
aconteceu comigo. Acho que fiquei nervosa, mas posso marcar uma revanche, tenho
certeza que ganho dele da próxima vez.
- Nem em sonho! – Cecília se desvencilhou
do abraço. – Está desculpada, está tudo bem. Mas fazer a mesma burrada duas
vezes não. Vou imprimir alguns currículos para entregar na segunda-feira, se eu
fosse você faria o mesmo.
Laura se sentia abatida e entendia
completamente a amiga. Levaria alguns currículos como ela havia proposto, era
mesmo o melhor a fazer.
Durante todo o domingo quase não falaram.
Laura tinha certeza que Cecília estava mesmo brava com ela. Cecília tinha medo
que Laura pensasse isso, embora não estivesse feliz com o que ocorrera no dia
anterior, o que estava acontecendo mesmo era que não queria dar bandeira e
acabar contando o que sabia, aquela ligação deveria ser mantida em segredo.
Segunda-feira Laura se sentiu muito
cansada quando o despertador tocou, mas logo se levantou para acordar a amiga.
Misteriosamente Cecília se levantou sem protesto e parecia estranha.
- Cecy, vou fazer torrada. Você quer?
- Quero sim.
- Está tudo bem com você? Eu sei que fiz
besteira, mas até quando vou ter que lidar com isso?
- Olha a sua conta. – Cecília disse
apontando para o notebook dela sobre a mesa.
- O-o que? Olhar minha conta? Do que você
tá falando?
- Estou falando pra você abrir o extrato
da sua conta agora. – Ela abria e ligava o notebook enquanto falava.
Laura se sentou e obedeceu, enquanto
informava as senhas necessárias para a consulta ficou pensando no que Cecília
estava aprontando, se os pais dela própria estavam envolvidos, se Cecília
tivesse pedido ajuda ela é quem ficaria mesmo furiosa, não queria nada agora,
ela ainda conseguiria se virar, sabia disso.
Na tela o saldo a surpreendeu, olhou mais
acima e visualizou uma transferência no valor de U$600,00, o nome do titular
aparecia ao lado... ZACHARY WALKER HANSON.
- Era ele me ligando ontem e não minha
mãe, eu menti porque ele disse que deveria ser segredo. Me pediu o número da
sua conta e eu dei.
- Mas são U$600,00, não faz o menor
sentido. Ele ganhou, porque está me transferindo dinheiro?
- Estou tão espantada quanto você, ele
não quis me dizer detalhes e você logo chegou e interrompeu a conversa. Eu acho
que você devia aceitar, só acho. – E ela tinha novamente um sorriso no rosto
que fez Laura se sentir muito aliviada.
- Esse dinheiro seria muito bem vindo,
logicamente... Mas preciso descobrir porque isso e preciso descobrir já. Se
apressa que vamos chegar mais cedo hoje, preciso ter uma conversa com esse
garoto doido.
Cecília e Laura chegando a faculdade
viram o carro de Zac entrar pelo portão do estacionamento da faculdade. Laura
se encaminhou atrás dele e Cecília achou melhor não ir com ela.
Zac estava saindo do carro ainda quando
viu Laura vindo em sua direção, ela começou sem rodeios:
- Como assim você deposita U$600,00 na
minha conta e pede segredo pra minha amiga? Quando foi que você começou a fazer
caridade Zac Hanson? Eu não preciso disso ok?
Ele calmamente levantou os óculos de sol,
olhou bem nos olhos dela e riu. Era óbvio que ela estava brava e ele gostava de
vê-la assim e claramente que ela ficou ainda mais nervosa com ele.
- Dá pra se acalmar? Não tem nada de
caridade aqui e você ainda me deve U$200,00, não pense que me esqueci.
Laura olhava para ele com um imenso ponto
de interrogação no rosto.
- Ok, vamos ao assunto. Eu pedi segredo
porque queria ver sua surpresa com meus próprios olhos e tem valido a pena,
diga-se de passagem. – Laura ameaçou retrucar e ele a cortou – No sábado meus
irmãos e eu analisamos as suas fotos, o seu trabalho foi tão bom e vamos usá-lo
para nós como banda que resolvemos justamente te recompensar, pagando pelo
serviço.
A garota abaixou a cabeça, olhou para a
direção oposta a Zac, ela não acreditava que estava ouvindo aquilo, tinha um
sorriso bobo no rosto, sabia que U$600,00 era muito por uma sessão de fotos,
sabia que aquilo tinha o dedo dele e que desde o começo ele já tinha tudo
premeditado. Olhou novamente para ele, aquele garoto lindo e generoso.
- Você não existe.
Ele a abraçou, um abraço tão aconchegante
que ela não queria sair dele.
- Parabéns! Você acaba de receber seu
primeiro salário como fotógrafa, estou orgulhoso de você. Agora, falando como
Zac – ele disse se afastando do abraço com ambas as mãos nos ombros dela - pague
meus U$200,00, hahaha...
- Pode deixar. E obrigada Zac, eu nem sei
como agradecer.
- Eu acho que pra comemorar a gente podia
ir, sei lá, pegar um cinema...
- Isso foi um convite?
Ele laçou o braço esquerdo dele no direito
dela a guiando ao caminho da sala de aula e respondeu:
- Não. Porque quando a gente convida, a
gente paga. E quem acabou de lucrar foi você.
- Quanto é o cinema por aqui?
- Isso foi um sim?
- Isso foi um “Zac Hanson, U$600,00 não
faz de mim uma pessoa rica”. Aliás, U$400,00 né? Haha...
- Tem um filme ótimo passando, você vai
gostar. Passo as 6 pra te buscar?
Eles alcançaram a sala e pararam ao lado
da porta, Laura tinha a impressão de que todos olhavam pra eles, que podiam
vê-la do avesso, que zombavam de suas bochechas vermelhas, pensou em deixar Zac
sem resposta apenas pela vergonha de dizer sim, respirou fundo, olhou para
ele...
- Ok, você venceu... As 6 está bom.
- Combinado então. Vamos entrar?
Laura tentou prestar atenção na aula
aquele dia, e só torcia pelo intervalo para poder contar a novidade a Cecília.